A Prefeitura garante que tudo está dentro do previsto e descarta qualquer tipo de atraso nas obras para a Copa. (Diário do Nordeste - 23.04.2011)
O túnel da Avenida Humberto Monte é a única obra quase concluída. Foto: Miguel Portela
As alças do túnel não foram feitas. Foto: Miguel Portela
Pouca coisa saiu do papel, em termos de intervenções urbanísticas com vistas à Copa do Mundo de 2014, desde 31 de maio de 2009, quando Fortaleza foi escolhida subsede. As obras estão bastante atrasadas ou sequer começaram.
Para se ter uma ideia, foram priorizadas para serem ampliadas cinco avenidas, pelo fato de darem acesso ao Estádio Governador Plácido Aderaldo Castelo (Castelão): Via Expressa, Alberto Craveiro, Paulino Rocha, Dedé Brasil e Raul Barbosa. Em nenhuma delas há sequer indícios de que serão alargadas.
Nas quatro últimas, será implantado o chamado sistema Bus Rapid Transit (BRT), corredores exclusivos de ônibus. "Isso só pode ser piada. Como é que vão alargar a rua se não passaram por aqui para falar com a gente", desabafa o Ednardo Freitas, proprietário do depósito de Construção, localizado na Avenida Dedé Brasil.
Para Ednardo, "uma cidade que não prioriza a saúde não pode ter condições de ser subsede da Copa do Mundo. Se não atendem nem a quem mora por aqui, como é que os nossos hospitais receberão os turistas", indaga com descrença.
O depósito de Ednardo fica localizado próximo ao prédio do Desafio Jovem, num dos trechos mais críticos da Dedé Brasil. A chuva que caiu nos dias nove e dez últimos inundou completamente o local, invadindo casas e impedindo a passagem de veículos naquela área.
Túnel
O túnel da Avenida Humberto Monte sob a Bezerra de Menezes, única obra concluída, sem dúvida desafogou o tráfego de veículos. Entretanto, as reclamações dizem respeito às duas alças que não foram feitas, causando transtornos à comunidade.
Para a dona de casa Graça Moraes Souza, não há dúvida de que o túnel foi uma obra útil, entretanto, deveria ter em seu entorno outros equipamentos. "Esqueceram de colocar uma passarela. Atravessar a rua aqui é muito perigoso. O fluxo de veículos é grande e, como não tem mais sinal, a velocidade aumentou bastante. Acho que deveriam providenciar uma barreira eletrônica", sugere.
No local onde deverá ser construída a alça ao lado do Colégio Santa Isabel, a situação é crítica. As últimas chuvas deixaram a drenagem praticamente descoberta e parte da calçada da escola foi engolida pela erosão.
"O colégio já apresentou um projeto à Prefeitura para recuar a sua fachada e ceder terreno para a construção da alça. Até agora, porém, não tivemos resposta", aponta o professor Júlio Andrade. Segundo ele, os pais de alunos reclamam frequentemente. "A obra inacabada é preocupante também por conta da falta de segurança. Por isso, colocamos um vigia para observar a entrada e saída dos alunos. Era interessante que as duas alças fossem concluídas", disse.
A assessoria de imprensa da Coordenadoria de Projetos Especiais e Relações Institucionais e Internacionais da Prefeitura de Fortaleza (Cooperii) garante que todas as obras estão dentro do cronograma e que não trabalha com a possibilidade de que possa haver atraso. "Estamos em fase de análise dos projetos executivos por parte da Caixa Econômica Federal. A documentação referente à execução das obras se encontra em análise junto à Secretaria do Tesouro Nacional".
De acordo com a Cooperii, "logo após o retorno das análises por parte dos órgãos citados, a Prefeitura poderá iniciar o processo licitatório e, em seguida, iniciar as obras físicas. A previsão inicial, que ainda está valendo, é de que os trabalhos sejam iniciados em setembro próximo e sejam encerrados no fim da atual gestão municipal, em dezembro de 2012".
Os projetos de mobilidade urbana de competência da Prefeitura de Fortaleza são da ordem de R$ 261 milhões e 500 mil. A maior parte, da Caixa Econômica Federal (CEF), R$ 206 milhões e 600 mil. O Executivo Municipal entrará com uma contrapartida de apenas R$ 4 milhões e 900 mil para custear as obras físicas.
O maior montante da Prefeitura, entretanto, será mesmo destinado para bancar milhares de desapropriações, como as da Avenida Dedé Brasil, Deputado Paulino Rocha e Alberto Craveiro, por exemplo. São cifras da ordem de R$ 50 milhões.
Principais vias
De acordo com o planejamento financeiro, os gastos nas cinco principais vias serão o seguinte: Via Expressa, R$ 98 milhões para construção de túneis nos cruzamentos com as avenidas Santos Dumont, Padre Antônio Thomaz e Alberto Sá; Dedé Brasil, R$ 41 milhões e 600 mil na implantação do complexo viário de Parangaba; construção de viadutos nos cruzamentos com as avenidas Osório de Paiva e Germano Frank; e de túneis nos cruzamentos com o metrô da linha sul e Rua Bernardo Manuel.
Alargamento
Na Avenida Alberto Craveiro serão gastos R$ 33 milhões e 700 mil com o alargamento da avenida para 45 metros, ficando com quatro faixas por sentido e construção do túnel na confluência com a Dedé Brasil; o viaduto da Avenida Raul Barbosa, na interseção com a Murilo Borges, acarretará uma despesa de R$ 53 milhões e 600 mil.
Já a Avenida Deputado Paulino Rocha receberá R$ 34 milhões e 600 mil para a sua restauração. As alças do túnel da Humberto Monte aguardam pelo acordo de desapropriação dos terrenos.
METRÔ DE FORTALEZA
Governo promete testes ainda para este semestre
Três das principais obras para a Copa do Mundo de 2014 se encontram em estágios diferentes: o Metrô de Fortaleza (Metrofor), o Aeroporto Internacional Pinto Martins e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
Um dos trens elétricos italianos que serão testados na linha leste do Metrofor ainda neste semestre: o vagão tem 40 metros de comprimento e capacidade para receber 445 passageiros, sendo 50 sentados. Foto: Miguel Portela
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) inseriu o Pinto Martins entre os nove aeroportos que não estarão concluídos até o início do Mundial, num total de 13 que passarão por reformas no País. Segundo o Instituto, o projeto prevê um fluxo de seis milhões de passageiros por ano em 2014 enquanto a previsão é de que a demanda seja da ordem de 7,4 milhões de pessoas.
O titular da Secretaria da Copa, Ferruccio Feitosa, contesta a previsão. Ele garante que, numa reunião interministerial ocorrida no último dia oito, em Brasília, a Infraero apresentou um cronograma que prevê a conclusão da obra para dezembro de 2013 e com uma capacidade para atender oito milhões de passageiros/ano.
Com relação à Linha Sul do Metrofor, que começou a ser feita há mais de uma década e cujo valor total é de R$ 1.740.235.201,00, a previsão é de que os testes dinâmicos, que são realizados sem a presença de passageiros, entre as estações Rachel de Queiroz e Virgílio Távora, sejam realizados ainda nesse semestre. Logo em seguida terá início a chamada "Operação Assistida", em que os trens já circulam com passageiros. A operação comercial está prevista para 2012. A conexão ferroviária de 12,7 quilômetros, entre Parangaba e o Porto do Mucuripe, que passará por 22 bairros e beneficiará 90 mil passageiros/dia terá suas obras realizadas entre outubro próximo e maio de 2013.
O VLT custará R$ 265 milhões. Já o Castelão virou canteiro de obras desde a interdição (01/04) e o governo promete entregá-lo em 2013, para a Copa das Confederações. (FM)
FERNANDO MAIA
Repórter
Fonte: Caderno Negócios <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=969193>. Acessado em 23.04.2011 às 16:51h